quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Não me deixes não




Debruçada nas águas dum regato
A flor dizia em vão
À corrente, onde bela se mirava...
"Ai, não me deixes não!"

"Comigo fica ou leva-me contigo"
"Dos mares a amplidão"
"Límpido ou turvo, te amarei constante."
"Mas não me deixes, não!"

E a corrente passava novas águas
Após as outras vão;
E a flor sempre a dizer curva a fonte:
"Ai, não me deixes, não!"

E das águas que fogem incessantes
A eterna sucessão
Dizia sempre flor, e sempre embalde;
"Ai, não me deixes, não!"

Por fim, a desfalecida e a cor murchada,
Quase a lamber o chão,
Buscaria indo a corrente por dizer-lhe
Que a não deixasse não.
A corrente impiedosa, a flor enleio,
Leva-a do seu torrão;
A afundar-se dizia a pobrezinha:
"Não me deixaste, não!"

- I.L
05/04/2011

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